sábado, 18 de setembro de 2010

A VENDA DAS ESPOSAS NA INGLATERRA DO SECULO XVIII E XIX


Luan Alendes
Graduado em história UERN


     Os jornais ingleses, notes and queries e o the times, no século XVIII e XIX noticiaram vários casos de vendas de esposa nos mercados e feiras da Inglaterra pelos seus maridos. O historiador inglês THOMPSON, colheu nos antigos jornais ingleses 218 casos noticiados entre 1760 e 1880, segundo o THOMPSON essa pratica passou a ser bastante noticiada na imprensa inglesa pela quantidade de casos que estava ocorrendo na Inglaterra, essa pratica estava se tornando muito comum no território britânico, ou seja, tornou-se muito freqüente e normal esse evento.
     Essa pratica de vender a esposa, nos dias atuais parece um ato de barbaridade e falta de respeito entre os seres humanos, claro se observarmos o fato com uma mentalidade de nossa época. Mas essa prática era muito comum na Inglaterra do século XVIII e XIX entre a classe social plebéia inglesa – era a classe social de menos poder econômico e político na Inglaterra. Quando um casal queria se separar eles praticava o cerimonial de venda, esse cerimonial às vezes era forçado, mas na maioria das vezes era planejado entre o casal. Veja como ocorria o ritual da venda.


A venda deveria ocorrer numa praça de mercado ou outro local semelhante ao comercio. Embora se tenha noticia que ocorria também em cais de porto e tavernas (...). A venda às vezes era precedida por um anuncio publico, podia usar o sineiro da cidade para dar a notícia ou o marido podia andar pelo mercado com um cartaz com o aviso da venda. ( Thompson, p:316.1998)

Veja um aviso: "este é para informar ao publico que James Cole está disposto a vender sua mulher em leilão. Ela é uma mulher decente e limpa, com 25 anos, a venda deve o correr em New Inn na quinta feira às sete horas."
 
A corda era essencial para o ritual. A mulher ela levada ao mercado presa por uma corda, em geral amarrada ao redor do pescoço, às vezes ao redor da cintura. No mercado alguém deveria fazer o leilão, o marido ou um funcionário do mercado. Quando a venda acontecia, o par recém casado saiam sós ou os três juntos - a esposa o vendedor e o comprador. Após a venda os envolvidos redigiam um contrato em quanto bebiam juntos. (Thompson,p: 320. 1998).


     Mas esse assunto é muito complexo, precisamos observar alguns dados importantes sobre esse evento e refletir um pouco sobre ele. Precisamos analisar um pouco o contexto histórico, observando principalmente como aconteciam os casamentos e divórcios na Inglaterra nessa época. Segundo o THOMPSON essa prática da venda era tida como um costume cultural entre a classe plebéia inglesa, classe essa que era conhecida como os grupos sociais mais humildes da Inglaterra viviam em péssimas condições de vida, o trabalho era agrário, as casas eram humildes. E essa pratica por ser levada como uma questão cultural nem o clero e nem o estado interferia no costume. De acordo com o THOMPSON, outras nações da Europa e também da a America debochavam da prática na Inglaterra e criticava o governo inglês, "Uma nação que se empenhou tanto para acabar com a escravidão negra e não consegue proibir a venda de esposas".
    Quando falamos em casamento na Inglaterra do século XVIII e XIX, o que acontecia era muito interessante, o estado ainda não era secular, ou seja, não realizava casamentos, esse papel era da igreja (Anglicana), o clero realizava os casamentos, por sinal quem tinha o privilegio de casar perante o clero eram as classes mais altas e nobres da Inglaterra, a classe plebéia dificilmente tinha essa honra. Quanto ao divorcio, essa pratica não era oficializada na Inglaterra, não existia formas de divorcio, o estado ainda não realizava o divorcio muito menos a igreja.
     Uma ciosa interessante que podemos observar no ritual da venda foi a normalidade com que a prática passou a ser encarada, ou seja, o processo ficou tão corriqueiro que passou a ser visto como uma coisa muito normal na época.
     Percebemos também nesse ritual de venda, que às vezes nesse processo o marido e a esposa planejavam o negocio, ou seja, concordavam com a venda, em outros casos a venda era forçada, teve casos onde havia uma combinação com o comprado antes de chegar ao mercado, muitas vezes o negocio estava combinado e o comprador em alguns casos era o amante.
     Chegamos agora no ponto mais interessante do assunto. Porque fazer todo esse ritual "colocar uma corda no pescoço da esposa e vender no mercado"? Principalmente quando o negocio já tinha sido acertado antes de ir  ao mercado!
     Pelo fato de não existir formas oficiais de divorcio, pois o estado e o clero não realizavam essa pratica, a venda das esposas se caracterizava como uma separação ou ato de divorcio, ou seja, esse ritual era uma forma de mostrar a publico que estava acontecendo uma separação. A venda também simbolizava um casamento do comprador e a esposa vendida, já que dificilmente o clero realizava casamentos da classe plebéia.
    A venda das esposas na Inglaterra do século XVIII e XIX tornou-se uma forma oficial do homem mostrar a publico que não estava mais casado com a mulher, e que as dividas da mulher não era mais responsabilidade dele. Então essa prática firmou-se como meio oficial de divorcio entre a classe plebéia. Mesmo o negocio sendo combinado nos bastidores com o comprador, teria que acontecer todo o teatro da venda, com a corda e o leilão no mercado, pois todo esse teatro era a forma mais confiável de separação naquela época na Inglaterra, o fato de estar praticando o leilão ou venda a publico oficializava o divorcio.
     Essa prática era uma realidade naquele momento da história, onde a quantidade de fatos ocorridos tornou esse negocio em uma forma confiável de separação e divorcio, existia também um documento oficial no processo da venda, tornando o ato ainda mais seguro para aquela sociedade camponesa.
     Esse negocio da venda ficou tão importante na questão de oficializar o divorcio, que os casais que já eram separados há algum tempo, decidiam realizar todo o teatro de venda, exatamente para mostrar a publico que estavam divorciados, mesmo que a venda da esposa seja para o amante da mulher.
     Portanto esse ato realizado na Inglaterra do sec.XVIII e XIX de levar a mulher amarrado por uma corda no pescoço ou na cintura para o mercado anunciar sua venda e leiloá-la é todo um teatro para mostrar a publico de forma oficial que o casal estava se divorciando.

Bibliografia:

THOMPSON, E.P. Costumes em comum; revisão técnica Antonio negro, Cristina Meneguelli, Paulo Fontes. – São Paulo: editora Unicamp, 1998. (A venda das esposas. P: 305-353).

4 comentários:

  1. A história das representações é realmente algo muito interessante de ser estudada por nós historiadores, e com certeza Thompsom é um dos maiores historiadores graças a trabalhos como este sobre a "venda das esposas".

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  2. Trata-se, realmente de um texto muito interessante e atrativo, porém, fiquei um pouco curioso sobre outras características da época, que estavam relacionadas a venda das esposas, como por exemplo, o conceito matrimonial, os costumes de celebração, ou até mesmo, um tipo de noção de as mulheres viam seus maridos, etc. Talvez possa sanar minha curiosidade. Grande abraço.

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  3. Muito interessante. Também tenho um blog sobre amor e casamento. É um tema que eu pesquiso. Meu blog: sexoamorcasamento.blogspot.com

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  4. Muito interessante. Também tenho um blog sobre amor e casamento. É um tema que eu pesquiso. Meu blog: sexoamorcasamento.blogspot.com

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